Mostrar vulnerabilidade: uma questão de fraqueza ou de coragem?
Estar vivo é estar vulnerável
Pense numa obra de arte. Esta, pelos seus detalhes e materiais, pode ser associada ao conceito de fragilidade. Nos museus e exposições existe um aviso ao lado das obras que solicita para que não se toque nas mesmas, precisamente para não danificar o material. Mas, não é por ser frágil que a obra de arte mostra sinais de fraqueza, pois não?
Esta metáfora pode ser aplicada à vida humana. Ter a coragem de mostrar que se é frágil, sensível, atento ao outro e verdadeiro é ser-se confiante e humano e, como tal, imperfeito e emotivo da mesma maneira que se é racional e prático.
É a vulnerabilidade que nos torna humanos. “Estar vivo é estar vulnerável”, tal como nos diz a investigadora americana Brené Brown.
Nos dias que correm, há quem considere a vulnerabilidade um sinónimo de fraqueza ou de debilidade.
Hoje queremos desafiá-lo a olhar para o conceito de uma maneira diferente.
Ser vulnerável não significa ser fraco. Significa sim, ter a coragem para mostrar fragilidades.
A vulnerabilidade é uma característica que possibilita quebrar as barreiras entre os indivíduos, aproximando-os como pessoas que são, iguais em dignidade, com defeitos e qualidades, mas conscientes do que são. Mostrar a sua vulnerabilidade ajuda a gerar relações de confiança, a estreitar os laços e a humanizar a relação com os outros.
Permitir-se ser vulnerável exige autoconhecimento e capacidade para absorver os impactos da exposição da sua fragilidade (que pode ser uma força e é diferente de fraqueza). Ao desafiar-se a mostrar a sua vulnerabilidade, está a sair da sua zona de conforto e a expandir os seus horizontes, o que o permitirá aprender de uma forma contínua.
Ser vulnerável não significa ser fraco. Significa sim, ter a coragem para mostrar fragilidades. Mas atenção, fragilidades que façam sentido nessa relação e que lhe tragam valor acrescentado. Mostrar o seu lado humano, gerador de empatia, que o aproxima dos outros e que mostra que é uma pessoa única, mas “igual” às outras.
Ser vulnerável no local de trabalho abre espaço para a confiança e para a criatividade
Isto é válido também para a vida profissional. Temos o mesmo corpo na vida pessoal e profissional, pelo que a vulnerabilidade não deve ser separada ou excluída de nenhuma destas áreas.
Já pensou no impacto que provoca nos outros a ideia de que tem que ser um super-herói, omnisciente, com resposta e solução para tudo? Além de o desgastar e de lhe retirar autenticidade – pois está mais focado em manter essa imagem de super-herói -, leva a que os outros não o sintam enquanto pessoa com emoções que é, e por isso, eles próprios se irão “proteger” e espelhar-lhe o seu comportamento, fazendo com que a as relações sejam pouco autênticas e humanizadas. E o espaço para gerar relações de confiança é substituído por um espaço pouco autêntico, cheio de “armaduras e proteções” e os respetivos medos que lhes estão inerentes… mesmo que aparentemente, tudo pareça estar bem. Claro que parece! Nesta relação só se pode mostrar as forças, as competências…. E é isso que todos fazem! E então, deixa de haver espaço para a curiosidade, a cocriação, para o crescimento e para a transformação.
Se for líder de uma equipa, mostre-lhe que é normal não ter sempre resposta para tudo. É líder, mas acima de tudo é humano. Os momentos de incerteza fazem parte e os erros também. “Errar é humano”. Frase antiga, mas sempre atual.
Quando aceita esta condição, faz com que os seus colaboradores se inspirem, percebam que é como eles e que estão todos “no mesmo barco”.
Pedir ajuda e assumir que não se sabe fazer determinada tarefa também é algo a adotar. Seja sincero e fiel àquilo que sente. Desta forma irá fortalecer os laços com aqueles que o rodeiam no local de trabalho e beber conhecimento daqueles que o podem ajudar naquela tarefa que tem mais dificuldades em realizar.
Se não é líder de uma equipa, tenha a coragem de ser vulnerável, de dizer “não sei, mas quero aprender, de ser curioso, de pedir ajuda, de mostrar as suas ideias e propor inovações. É também sua responsabilidade criar este ambiente de abertura, autenticidade e confiança.
Ser vulnerável, abre espaço para a confiança e a criatividade! Permite que cada um se mostre, traga as suas ideias para a ribalta com confiança. Afinal somos todos imperfeitos!
Para se abraçar a vulnerabilidade é preciso ter a coragem para ser imperfeito
Numa Ted Talk[1], Brené Brown explica que para se abraçar a vulnerabilidade é preciso primeiro ter a coragem de se ser imperfeito. Há que aceitar e ser gentil consigo mesmo para depois o conseguir ser com os outros e, desta forma, criar uma conexão com eles.
O Search Inside Yourself Leadership Institute (SIYLI)[2] defende também a importância de cada um expor aos seus pares a sua vulnerabilidade. No entanto, reconhece que mostrá-la pode conduzir a sentimentos e emoções menos agradáveis, porém pertencentes à condição humana e, por isso, impossíveis de escapar.
É também importante saber ouvir com atenção e entender o outro, ideia que acaba por mostrar a relação de proximidade entre vulnerabilidade e empatia.
Ao mostrar a sua vulnerabilidade está a contribuir e a sugerir àqueles que o rodeiam que também o façam, ao mesmo tempo que promove o crescimento de todos.
O nosso desafio: Tenha a coragem para largar a ideia de que a vulnerabilidade é algo negativo e que só contribui para salientar os seus pontos fracos.
Relacione-se abertamente com os outros, deitando fora a “capa protetora” de medos e receios.
Abra as portas à vulnerabilidade e dê-lhe as boas-vindas sem medo. E observe e sinta o que isso faz por si e pelos outros!
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[1] https://www.youtube.com/watch?v=iCvmsMzlF7o
[2] https://siyli.org/vulnerability-leadership/